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sexta-feira, 21 de abril de 2023
SINTAGMAS
segunda-feira, 17 de abril de 2023
CRÔNICA: Meu gato lacaniano
domingo, 16 de abril de 2023
Angústia
sábado, 15 de abril de 2023
Formação do Sujeito
O que Carolina não viu?
Carolina
Nos seus olhos fundos
Guarda tanta dor
A dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei que não vai dar
Seu pranto não vai nada ajudar
Eu já convidei para dançar
É hora, já sei, de aproveitar
Lá fora, amor
Uma rosa nasceu
Todo mundo sambou
Uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo
Pela janela, ói que lindo
Mas Carolina não viu
Carolina
Nos seus olhos tristes
Guarda tanto amor
O amor que já não existe
Eu bem que avisei, vai acabar
De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor
Uma rosa morreu
Uma festa acabou
Nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela
O tempo passou na janela
E só Carolina não viu
Eu bem que mostrei a ela
O tempo passou na janela
E só Carolina não viu
sexta-feira, 14 de abril de 2023
CONTO: Kant-emos com Sade
Oh, Justine, vamos fazer fuque-fuque de uma forma diferente, mais apimentada, com mais ardor. Você leva seu mamilo e eu meu alicate; eu levo meu bum-bum e você o seu chicote. Vamos ter um gozo puro, sem sublimação. Vamos nessa onda sado-masô...vamos gozar na dor!
Oh, Justine, que as pessoas devem ser livres para viver seu gozo, sem barreiras morais, religiosas, policiais. Que todos devem aprender a buscar prazer no corpo, em qualquer partícula do corpo, em qualquer ponto de tensão e de tesão.
Vamos tomar chá de gengibre com torrada damasco-geleiada e depois fuder gostoso até fluir sangue por todos os poros de nossos corpos. Comer e ser comido... coisa mais boa não há!
Deixe eu gozar do seu corpo, minha cara, torná-lo meu. Deixa eu te subjugar até não restar mais nada de ti, a não ser como objeto de meu prazer mais puro. Permita que eu te faça de-ser ao mais baixo de si mesma, te prostituir e marcar como minha, única minha.
Vamos viajar em nossas fantasias e depois tomá-las na realidade, subverter a lei e a moral, pois a moral pode ser tornada em deleite fantasioso: fingir ser papa e foder as papisas; fingir ser rainha e foder com os súditos. Fingir ser alguém diferente e até poder fingir ser você mesmo, sem laços, sem amarras, sem pudores.
Oh, Justine: kant-emos com Sade o mais alto do nosso prazer. Goza!
XIBOLÊ COMO SENHA PARA O LAÇO SOCIAL
quinta-feira, 13 de abril de 2023
"Navegar é preciso, viver não é preciso"
No século I a.c., o general romano Pompeu, encorajava marinheiros receosos de enfrentar o mar a seguir navegando, inaugurando a frase “Navigare necesse, vivere non est necesse.”
No século XIV, o poeta italiano Petrarca transformava a expressão para “Navegar é preciso, viver não é preciso.”
“Quero para mim o espírito dessa frase”, escreveu depois Fernando Pessoa, confinando o seu sentido de vida à criação e tornando-a memorável. Caetano Veloso depois a cantou, numa melodia inebriante como as ondas dos mares.
Navegar tem precisão se se segue os instrumentos de navegação, navegar com técnica.
A vida, no entanto, parece ser imprecisa, deixa-se viver, deixando a vida nos levar. Não existe cartilha para se viver, mas é possível também encontrar instrumentos para tornar a vida mais precisa.
Viver simplesmente não rende, é preciso viver navegando, conhecendo os mares, as tempestades, sobreviver e crescer.
Navegar é experimentar, explorar, se arriscar, enfrentar os mares da nossa história pessoal.
Navegar, então, tem a ver com resiliência. Encontrar a nave mais potente e segura, a tripulação mais experiente, tentar escolher os mares mais calmos. Isso exige sabedoria. E o círculo se redobra, pois sabedoria se obtém experimentando, criando. Ou seja, não há outra forma de crescer senão em meio a algum sofrimento, sofrimento por existir e navegar.
Mas dependendo da intensidade das tempestades, nossa vida pode ficar pelo caminho e nossa navegação não nos leva a um destino certo.
Histórias intensas que vivemos podem sobrecarregar nossa capacidade de lidar com os traumas resultantes delas.
Uma solução possível é falar desses traumas, desses momentos intensos, falar a quem nos escute profissionalmente e aponte os caminhos e as pontes por onde possamos continuar a navegar de forma resiliente.
Um psicanalista consegue escutar o que de nossa história nos entrava e nos auxilia a nos destravar, a retomarmos o caminho da resiliência.
Tarefa a dois, a análise é um trabalho árduo, exigindo que um fale tudo o que é possível de ser falado, e que o outro escute o dito e o não dito, o dito no não-dito, as entrelinhas de um discurso que recoloquem nossa vida nos trilhos, melhor ainda, sobre as ondas dos mares.
segunda-feira, 10 de abril de 2023
Enlaces possíveis entre resiliência e psicanálise
Mas seria isso tornar um sujeito resiliente?
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SITUAÇÃO TRAUMÁTICA E
RESILIÊNCIA Para alguns estudiosos da
resiliência, o trauma ocorre quando é superada a capacidade de se lidar
emocional e cognitivamente com um fato ocorrido, levando a pessoa a uma
sensação de impotência e a transtornos físicos e psíquicos |
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TEORIA |
PSICOLOGIA |
PSICANÁLISE |
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Origem do trauma |
Situações que afetam a pessoa em algum momento da
vida, como perda de alguém querido, doenças, perda financeira, acidentes,
etc, levando a pessoa a ter transtorno pós traumático, sintoma que está
ligado diretamente à situação ocorrida. Essa situação não é esquecida, está
disponível à consciência e isso tem peso no sintoma. |
O trauma é causado por uma cena, geralmente sexual,
vivida pela pessoa na infância e dentro de sua família ou muito próxima dela
(relação com o complexo de édipo). O efeito do trauma são as neuroses
(sintoma) e suas causas são inconscientes. Os sintomas que são efeitos dessa
cena traumática aparecem na fase adulta, ou seja, a posteriori, e são eles
que estão disponíveis à consciência |
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Tratamento |
Paciente fala da cena traumática, que é o fato
acontecido, para obter compreensão (cognitivo) sobre ele e buscar sua
superação |
Paciente fala de tudo que esteja relacionado ao
sintoma (recordar e elaborar), com o objetivo de encontrar um enlace entre
ele e a cena traumática inconsciente que é sua causadora, encontrando um
sentido para o que lhe acomete. |
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Resiliência |
Quando a pessoa supera o trauma e volta a estar como
estava antes dele, ou até melhor do que se encontrava, diz-se que ela
adquiriu resiliência, diretamente ligada a essa superação. É uma forma de
aprendizagem para lidar com futuras situações traumáticas |
A psicanálise ainda reflete pouco sobre a questão da
resiliência. Talvez o sentido adquirido ao desrecalque da cena traumática
permita à pessoa lidar melhor com os sintomas que forem aparecendo ao longo
de sua vida, mas nada garante que esses sintomas não façam parte de sua
existência e que ela mude apenas a maneira de lidar com eles. |
domingo, 9 de abril de 2023
Sujeito suposto saber
Se há lugar para um saber, ele está situado em relação a uma falta. Se a falta cria o desejo, o saber pode estar em relação a esse desejo. Desejo de saber... o que? Saber qual conteúdo da história do sujeito sustenta essa falta, adquirindo estatuto de verdade. Verdade saber do sujeito. Saber que se torna verdade quando emana do inconsciente.Mas como chegar a essa verdade? Ela é totalmente inconsciente ou pode se tornar consciente? No dispositivo analítico o discurso do sujeito permite acesso a ela ou sofre por acessá-la. Recalcado e retorno do recalcado seriam a mesma coisa, verdade que se esconde e se revela de forma velada. Sempre inacessível, portanto? Se o saber está do lado do sujeito, por que ele não consegue acessá-lo fora do dispositivo analítico? Somente provocado pela escuta do analista?Por que o recalque se revela nesse saber não sabido? Unicamente pela presença do analista o desejo de saber se faz presente, deslocado, mas com função de trabalho: fazer valer o inconsciente e a verdade que o faz espocar.Saber de desejo sustentado pelo desejo do analista. Dessubjetivação (retificação subjetiva) como assunção de algum saber, ou pelo menos desejo de chegar até ele, de se tornar responsável pela falta. Sujeito dividido entre seu furo e seu saber, num equilíbrio pouco provável, entre um sintoma significante e uma significação a toda prova.Saber inconsciente que não supõe um sujeito, mas que está encarnado nele, sujeito do inconsciente, que se manifesta em um saber que pode ou não se tornar a verdade desse sujeito e transformá-lo.
Psicanálise em gotas
NÓS E NOSSO TONEL FURADO
sexta-feira, 7 de abril de 2023
Freud e a psicanálise
Afirma-se frequentemente que Freud aprendeu com as histéricas, que a partir do tratamento delas criou o método psicanalítico. O que se pode perceber pelos textos chamados pré-analíticos (e que para alguns comentadores já seriam analíticos!) é que ele pastou com essas mulheres (e um ou dois homens) histéricas, primeiro tentando tratá-las como neurologista, algumas vezes pegando Charcot como modelo, somente com a hipnose. Depois começou a usar o método que Breuer usara com Anna O. (método catártico com uma única paciente?) em 1882, e que sabemos em que fim deu.
ENTRADA EM ANÁLISE
Reflexões a partir de minha análise pessoal
Fim da sessão: confirmar horário seguinte, deixar o dinheiro em cima da escrivaninha do analista, apertar sua mão e partir, ainda pensando no que fora dito ali. Não é fácil, para alguns, parar o discurso no momento em que o analista faz o corte e fingir que o dispositivo se desfaz magicamente e que a pessoa que está à sua frente não encarna mais o papel de analista. Alguns continuam narrando fora do divã até a porta do consultório, não distinguindo o analista semblante do analista pessoa.
E quando se fica esperando uma sessão curta e ela não chega? Seria sinal de que o analista não está encontrando motivo para o corte e que o material que se está oferecendo não é interessante ou válido?
O que é esse encontro entre analisantes na sala de espera? Qual a cumplicidade que poderia existir entre eles? Sinal de que os horários anterior ou posterior estão ocupados, o que pode indicar o status do analista (estar com agenda cheia).
Realmente se sonha (ou não se sonha - de não lembrar dos sonhos) para o analista! E também se lembrar mais dos sonhos que se tem, como se cada um deles existisse para ser ofertado no altar do dispositivo analítico.
PSICANÁLISE EM GOTAS
Aparentemente, boa parte dos analistas não teorizam sobre o uso do
divã, talvez por desinteresse, talvez por desconhecimento. Nesse
sentido, poucas justificativas são apontadas sobre por que, como e quando
catapultar o analisante da poltrona para o divã. No caso de lacanianos,
muitos não percebem que geralmente as entrevistas preliminares se dão na
poltrona e a análise propriamente dita no divã; seria essa a passagem. Com
relação a quando, já ouvi analistas argumentarem sobre o tempo para isso (de um
dia a meses!), mas sem conseguir justificar o motivo. O porquê com certeza
é ainda bem mais complexo.
Para esse pequeno texto pesquisei a obra completa de Lacan e Freud e
cerca de 50 livros de comentadores sobre psicanálise para conseguir encontrar
pouco material a respeito. Mesmo em Freud e Lacan as justificativas são poucas.
Resolvi não pesquisar textos específicos sobre a função do divã para não me
contaminar. No entanto, vale a pena citar um que valoriza bastante o tema, que
é o 4 + 1 condições da análise, do Quinet.
Freud começou a deitar suas pacientes histéricas como forma de substituir o sonambulismo provocado pela hipnose (já quem nem todas eram hipnotizáveis e porque ele também se considerava um péssimo hipnotizador); nessa posição elas poderiam ficar num estado de concentração que lhes facilitavam falar tudo que vinha ao seu pensamento, o que depois passou a ser denominado como associação livre (ver Estudos sobre Histeria, de 1895).
Esse método continuou sendo usado depois que ele fundou a psicanálise,
com outra justificativa somada de que ele não conseguia sentir-se olhado dez
horas por dia por seus pacientes, ou seja, uma questão pessoal dele.
Muitos analistas consideram que eles ouvem melhor o paciente no divã do que os que se sentam em sua frente, não por estarem fisicamente perto, mas sim porque o analista não se distrai com os olhares e expressões faciais de seus pacientes (afirmação de Fink, que também alerta sobre o risco de se deitar pacientes psicóticos).
quinta-feira, 6 de abril de 2023
PSICANÁLISE EM GOTAS
Seriam os textos psicanalíticos difíceis de serem lidos?
Morte em Veneza – uma visão psicanalítica
TÍTULO ORIGINAL
Der Tod in Venedig (escrito em 1911 e publicado em 1912), Editora Abril, 1971
PERSONAGENS
Gustav Aschenbach (alemão, com cinquenta e poucos anos) e Tadzio – apelido diminutivo de Thadeus (polonês, com 14 anos)
AUTOR
FILME DO VISCONTI
"O menino mais bonito do mundo" é um documentário de 2021 sobre Björn Andrésen e os efeitos da fama sobre ele quando apareceu no filme de Luchino Visconti de 1971, Morte em Veneza, em que fez o papel de Tadzio. Visconti e sua equipe rodaram o mundo procurando por um garoto que se encaixasse no perfil do personagem. Nesse documentário o ator conta como foram as filmagens, a relação com o diretor italiano e as repercussões negativas de ter vivido Tadzio no cinema.
QUAL É A DA PSICANÁLISE COM A QUESTÃO SOCIAL?
1-O atendimento psicanalítico geralmente é realizado num consultório fechado, de forma individualizada. O paciente é convidado a falar liv...
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Discurso de Roma (“primeira”), 1953, falado (mas não lido, por ter ficado muito longo) no Congresso de Roma: encontro entre psicanalistas ...
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O personagem Quinn, da série The White lotus, parece ter sido diagnosticado com síndrome de aspenger, algo que sua mãe nega, agora com 16 an...
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MORTE EM VENEZA – Thomas Mann TÍTULO ORIGINAL Der Tod in Venedig (escrito em 1911 e publicado em 1912), Editora Abril, 1971 PERSONAG...

















