Igual ao gato de Schroedinger, que podia estar muito bem vivo ou muito bem morto, dependendo do gás que ele respiraria dentro de uma caixa, o gato lacaniano pode muito bem estar dentro de uma letra ou fora dela, respirando ou não o pó dos livros. Repetição que faz soar seu nome (xxeeu – Xexéu, aqui representado na imagem), estar ou não gato (enquanto gato vivo) representa uma paralisia hamletiana do ser ou não ser na sua própria tumba (enquanto gato morto), o que pode fazer sua identidade girar entre Um e Zero, não sabendo associar severamente o Um ao estar e o Zero ao não estar, podendo isso variar (vingar o pai morto ou não). A lógica não faz acepção quanto a ser ou não ser, cada possibilidade tendo sua própria reflexão e seus próprios efeitos, inclusive em espaço-tempo diferentes. Ou então um gato grudado à fímbria do cogito à beira de uma lareira, enquanto seu dono meditava dia e noite, procurando insistentemente seu ergo, para com ele se fazer existência (no momento do gato vivo), sabendo ainda que a fórmula pode ser derivada, como em Lacan, da existência ao pensamento, o logo ainda funcionando na garantia do ser. O gato pode passear à lua cheia como verme rastejante (fora do gás) ou como íncubo à procura de um súcubo (dentro do gás, ou então como morto-vivo). Letra morta que fez e faz seus efeitos nos restos deixados pelo caminho, sanguessuga ou suga sangue, vertido pelas garras-gato ou pelo canino (não do cão, mas também cão, pois filho quase vivo e quase morto daquele Cão maior), sangue que salva o quase-morto (vampiro), mas que também transforma em quase-morto o que ainda poderia estar vivo (vítima hipnotizada ou seduzida). Gato intelectual, lacaniano, descansando seu crânio sobre um escrito que já foi fala, agora inscrito e zerado, dormindo no sossego de quem pode estar entre a vida e morte (gás do sono). Sem osmose possível, nesse caso, já que letra morta precisa ser devorada como cadáver e somente humano sabe disso fazer; bom, nem todo humano, mas gato com certeza não, pois seu crâneo foi até certo ponto da evolução. Gato esfinge que porta a resposta a sua própria pergunta sobre seu futuro entre matar e ser morto (vida escandida que se liga à morte, mas não espera por estar para se fazer potência destruidora). Nesse caso, matar e morrer carregam o mesmo sentido, destino traçado e impossível de ser refeito. Uma única vida, e não sete, vive esse gato que perscruta nas palavras do outro o caminho a ser percorrido e jamais desviado. Caminho, fazendo a exceção, que pode levar a dois destinos grudados, o da vida e o da morte.
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