No século I a.c., o general romano Pompeu, encorajava marinheiros receosos de enfrentar o mar a seguir navegando, inaugurando a frase “Navigare necesse, vivere non est necesse.”
No século XIV, o poeta italiano Petrarca transformava a expressão para “Navegar é preciso, viver não é preciso.”
“Quero para mim o espírito dessa frase”, escreveu depois Fernando Pessoa, confinando o seu sentido de vida à criação e tornando-a memorável. Caetano Veloso depois a cantou, numa melodia inebriante como as ondas dos mares.
Navegar tem precisão se se segue os instrumentos de navegação, navegar com técnica.
A vida, no entanto, parece ser imprecisa, deixa-se viver, deixando a vida nos levar. Não existe cartilha para se viver, mas é possível também encontrar instrumentos para tornar a vida mais precisa.
Viver simplesmente não rende, é preciso viver navegando, conhecendo os mares, as tempestades, sobreviver e crescer.
Navegar é experimentar, explorar, se arriscar, enfrentar os mares da nossa história pessoal.
Navegar, então, tem a ver com resiliência. Encontrar a nave mais potente e segura, a tripulação mais experiente, tentar escolher os mares mais calmos. Isso exige sabedoria. E o círculo se redobra, pois sabedoria se obtém experimentando, criando. Ou seja, não há outra forma de crescer senão em meio a algum sofrimento, sofrimento por existir e navegar.
Mas dependendo da intensidade das tempestades, nossa vida pode ficar pelo caminho e nossa navegação não nos leva a um destino certo.
Histórias intensas que vivemos podem sobrecarregar nossa capacidade de lidar com os traumas resultantes delas.
Uma solução possível é falar desses traumas, desses momentos intensos, falar a quem nos escute profissionalmente e aponte os caminhos e as pontes por onde possamos continuar a navegar de forma resiliente.
Um psicanalista consegue escutar o que de nossa história nos entrava e nos auxilia a nos destravar, a retomarmos o caminho da resiliência.
Tarefa a dois, a análise é um trabalho árduo, exigindo que um fale tudo o que é possível de ser falado, e que o outro escute o dito e o não dito, o dito no não-dito, as entrelinhas de um discurso que recoloquem nossa vida nos trilhos, melhor ainda, sobre as ondas dos mares.

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