No seminário 10 Lacan trabalha graficamente a divisão subjetiva (figura abaixo), colocando miticamente na primeira linha o sujeito natural e o Outro não barrado. Penso que nessa linha se poderia localizar a Afirmação (Bejahung) freudiana e o que se afirmaria com ela seria a possibilidade de gozo (bolha narcísica criança-mãe). Contrapondo a essa Bejahung viria a Verneinung (negação) como corte, recalque primário, castração, o Nome do Pai funcionando como um não à mãe e à criança quanto a recuperar o falo ou se colocar na posição dele, respectivamente.
Tanto afirmação quanto negação nesse momento seriam processos lógicos que ocorrem ao mesmo tempo, mas também seriam míticos, funcionando como barramento tanto ao Sujeito quanto ao Outro (segunda linha do gráfico da divisão). E talvez isso levasse a uma nova afirmação que seria o fantasma (linha vertical do lado do A) e, dialeticamente, retomasse o processo anterior como tentativa de encontrar um objeto de desejo que satisfaça o gozo perdido com a castração sofrida (reencontro com o objeto em Freud) e a não possibilidade de qualquer objeto satisfazer a essa busca funcionando como nova negação...
Talvez um exemplo disso seja o que Freud aponta em seu texto a A Negativa (Die Verneinung, de 1925) em que o paciente, frente ao reconhecimento de que a mulher em seu sonho pudesse ser sua mãe (afirmação e presença da cena do gozo), nega essa possibilidade (negação frente ao medo da castração evocada pelo gozo) somente para reforçar que era realmente sua mãe (nova afirmação como desejo de reencontro com o objeto de gozo no fantasma).

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