Desejar é buscar algo que possa completar um furo.
Esse buraco é “em- mim”, mas também é “em-si”, ou seja, é a
busca de tamponar seu furo, mas que também se relaciona com o furo no Outro.
É confundir o que o Outro pede com o que o Outro deseja.
Nessas voltas da demanda do Outro se coloca o desejo próprio, mas alienado pelo
banho da linguagem em que se é metido por esse Outro.
Tenta-se fazer Um com aquilo que faz furo “em-mim” com o que
penso localizar-se “em-si” e em vez de se fazer o Um da unidade, faz-se o 1
contável, e que nesse caso nem dá 2, mas sim 3, partindo-se do buraco. O buraco
inicia a série infinita de desejos lançados, mas é sempre n+1 que não alcança o
dois do Um.
A seguinte cena pode ilustrar isso: estava num brechó e viu
uma saboneteira que achou agradável. Seu desejo sobre ela foi lançado, mas não
a adquiriu, não a tomou para si. A colega que acompanhava viu a cena, comprou a
saboneteira e deu-lhe de presente. Ela não entendeu que seu desejo circulou o
objeto, mas não queria enganchá-lo, pois ele era somente a causa do seu desejo
(que estava alhures, no Outro) e não poderia ser satisfeito por aquele objeto
disparador de memórias infantis. Poderia ter dito a ela para lhe dizer de volta:
peço que me recuses o que te ofereço, pois não é isso!
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