Foi a descoberta da transferência o que possibilitou a Freud o abandono da hipnose a e invenção da psicanálise em 1896.
A transferência talvez seja o conceito mais fundamental da psicanálise. Refere-se ao fenômeno pelo qual um paciente desenvolve sentimentos, emoções e atitudes em relação ao analista que são semelhantes aos sentimentos que ele teve em relação a pessoas significativas em sua vida, como pais, irmãos, amigos ou figuras de autoridade.
Esse fenômeno pode ser positivo ou negativo e pode envolver amor, raiva, dependência, ciúme, entre outros. O paciente pode começar a ver o analista como uma figura importante em sua vida e pode experimentar uma variedade de reações emocionais em relação a ele. Isso possibilita que o tratamento caminhe e colha bons resultados.
Freud acreditava que a transferência permitia ao paciente reviver e explorar conflitos emocionais não resolvidos do passado, muitas vezes relacionados à infância, possibilidade permitida pelo que se passava no dispositivo analítico. O analista geralmente reconhece a transferência e trabalha com ela, ajudando o paciente a compreender e explorar seus sentimentos em relação a ele, analista. O objetivo é trazer à consciência os padrões emocionais e relacionais do paciente, facilitando um processo de autodescoberta e mudança.
A explicação desse processo é que ocorre no dispositivo analítico a substituição da neurose comum pela neurose de transferência, em que o paciente respeita as condições do tratamento e se consegue dar a todos os seus sintomas um novo significado de transferência. “A transferência cria, assim, uma zona intermediária entre a doença e a vida, onde se dá a transição da primeira para segunda” (Freud, Lembrar, repetir e perlaborar, 1914, Editora Autêntica, p. 160). Esse novo estado do paciente, apesar de parecer com sua situação real, é um estado/doença artificial, criado pelo dispositivo analítico e no qual o analista pode intervir, o que permite ao paciente rememorar e perlaborar, em vez de simplesmente repetir seus processos infantis, superando suas resistências ao tratamento.
Segundo Freud, a neurose de transferência é um processo natural que emerge como resultado do método psicanalítico, em que o terapeuta assume o papel de uma figura de autoridade e cuidado para o paciente. Por meio da relação terapêutica, o paciente revive e projeta seus conflitos emocionais e padrões de relacionamento passados, muitas vezes inconscientes, no terapeuta.
Essa transferência pode oferecer uma oportunidade valiosa para o trabalho terapêutico, uma vez que os sentimentos transferidos podem ser explorados e analisados em conjunto com o paciente. Ao examinar a natureza da transferência, o analista e o paciente podem acessar conteúdos emocionais e relacionais subjacentes que podem estar no cerne dos problemas psicológicos do paciente.
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