O personagem Quinn, da série The White lotus, parece ter sido
diagnosticado com síndrome de aspenger, algo que sua mãe nega, agora com 16
anos de idade, mas que o ator, mesmo assim, parece dar ao personagem traços
dessa síndrome, apontando principalmente para seu ensimesmamento. Esse voltar
para dentro de si mesmo o deixa ligado a latusas (gadgets), como um tablet e um
celular, em que ele joga, assiste a filmes pornôs, sem, no entanto, apontar
para laços sociais à distância. Ligado a esses aparelhos criados pela ciência,
comprados por sua mãe capitalista num passe de mágica, e apresentados como
possibilidade de curar sua falta, ele não precisaria ter contato com o mundo.
A relação com o pai é boa, mas ele parece ver neste uma
figura enfraquecida, dominado pela esposa, sem apresentar a possibilidade de
doação do falo (num dos diálogos, ele pergunta se o pai estaria aborrecido por
fazer menos dinheiro que sua mãe). No entanto, algo desse pai, talvez sua
figura real, pode fazer corte em Quinn, afeminando-o um tanto (Quinn tem a
mesma sonoridade que queen), mas livrando-o da psicose (autismo), sem deixar de
colocá-lo dentro de uma neurose grave.
Mergulhar com o pai, enxergar bichos abaixo da superfície do
mar lhe dá nova perspectiva: ao mesmo tempo em que ainda se sente mergulhado no
corpo da mãe, o pai tem alguma presença ali para fazer corte. Mas somente
quando Quinn encontra outros homens que consegue enfrentar o mar-mãe de uma
forma mais violenta (remar o bote mar a dentro) e convidam o garoto para
participar desse processo (remar com eles, substituindo outro homem que,
aparentemente mais fraco, foi deixado para trás pelo grupo) é que ele consegue
criar verdadeiro laço social, deixando as latusas para trás e podendo
reivindicar sua liberdade para fazer seu próprio caminho rumo à fase adulta,
deixando de buscar o gozo fálico ou o gozo do Outro para cair no gozo da vida.
