Em psicanálise, os conceitos de "fantasma" e "fantasma fundamental" têm significados específicos, especialmente no contexto da teoria desenvolvida pelo psicanalista Jacques Lacan.
O fantasma em Lacan refere-se a uma construção psíquica que descreve a maneira como um sujeito imagina e lida com seus desejos. É uma estrutura imaginária que surge para preencher uma falta ou uma hiância no sujeito, muitas vezes relacionadas a experiências traumáticas da infância. É uma narrativa inconsciente que se desenvolve em torno de desejos e angústias, sendo uma forma de lidar com as tensões entre os impulsos do inconsciente e as demandas da realidade externa.
O fantasma emerge na infância como uma resposta à complexidade da realidade e ao enigma da diferença sexual; é constituído através do complexo de édipo, quando a criança percebe a diferença sexual entre seus pais e, ao mesmo tempo, experimenta desejos incestuosos e rivalidades. O fantasma, portanto, tem uma dimensão edípica e pode estar associado a temas como castração, desejo de completude e busca por um objeto idealizado.
O fantasma é essencialmente uma narrativa interna, uma história que o sujeito cria para dar sentido às suas experiências emocionais. Ele pode estar ligado a elementos do passado do sujeito, mas sua função principal é moldar a maneira como o sujeito se percebe e se relaciona com os outros e o mundo ao seu redor. Ele também está intimamente relacionado ao conceito de objeto a, que representa um objeto perdido e desejado, causa do desejo. Esse desejo, mais o fantasma, farão barreira ao gozo que o sujeito busca e não encontra, esse desencontro sendo suprido no movimento do fantasma.
O fantasma fundamental, por sua vez, é um elemento estruturante da psiquê e é considerado o alicerce do sujeito, moldando sua percepção de si mesmo, dos outros e do mundo. Lacan argumentava que esse era um componente essencial para entender a forma como o sujeito experimenta o desejo e a realidade (fantasma como tela para o Real).
O fantasma fundamental, também conhecido como fantasma primordial, é um conceito central em Lacan. Refere-se ao fantasma originário que se forma na primeira infância, em resposta à experiência da falta primordial, ou seja, a perda do objeto primário (geralmente a mãe) que ocorre quando o bebê se torna um sujeito separado e independente.
Ao longo da vida do sujeito, esse fantasma fundamental pode ser modificado ou reprimido, mas suas raízes permanecem influentes nas formações imaginárias posteriores que o sujeito desenvolve. A análise explora esses fantasmas fundamentais para ajudar o sujeito a tomar consciência de seus padrões psíquicos e encontrar maneiras de lidar com suas questões emocionais.
Um dos fantasmas fundamentais mais conhecidos é a criança se perceber sendo "o falo" para a mãe, ou seja, de ser o objeto de desejo supremo e completo para a figura materna. Esse fantasma pode ser compreendido como uma tentativa de lidar com a angústia da castração e a falta de completude do sujeito.
Em resumo, o fantasma em Lacan refere-se a narrativas internas que o sujeito constrói para lidar com seus desejos e conflitos, enquanto o fantasma fundamental é o que emerge na primeira infância em resposta à falta primordial e tem um papel fundamental na formação da psiquê do sujeito.